Como é ser discípulo de Jesus?

27 agosto 2007

Como é ser discípulo de Jesus?— é a pergunta de muitos.

Ora, é simples e terrível; e é tão terrível justamente porque é tão simples; e gera tanto esforço justamente por isto; pois nada há tão difícil quanto a simplicidade, nem que demande mais esforço que descansar no descanso.

A tendência natural da alma humana é para oferecer os mesmos sacrifícios de produção própria de Caim. Em Caim nasceu a religião. E é no espírito da oferenda auto-justificada de Caim que ela é praticada.

É difícil não oferecer nada a Deus. É muito difícil apenas confiar que o sangue de outro cobriu você. É loucura para os gregos e intelectuais; é escândalo para os judeus e todos os religiosos.

Para ser discípulo de Jesus a pessoa tem que renunciar o “si-mesmo”. Ora, isto significa desistir de si mesmo como “produção” de algo que comova Deus.

Negar a “si-mesmo” é abandonar a presunção da persona.

Negar a si mesmo é o que se tem que fazer para que o ‘eu’ seja alcançado, e, em seu estado mais verdadeiro, possa ser atingido pelo amor de Deus.

Negar a si mesmo é deixar toda justiça própria e descansar na justiça de Deus; que antes de tudo é justiça justificadora.

Negar a si mesmo é abandonar a presunção de agradar a Deus pela imagem e pelas produções próprias.

Quem quer negar-se a si mesmo?

Se alguém quiser, então, tome a sua cruz. Cruz? Que cruz? Ora, a única. A minha cruz será sempre me gloriar na Cruz.

Alguém diz: Mas não sobrou nenhum sacrifício para mim?

O sacrifício é aceitar que o Sacrifício foi feito e consumado!

Alguém pensa que isto é fácil?

Tente!

Sim, tente apenas e tão somente confiar que está pago e feito.

Tente crer que Jesus é suficiente, não como chefe de religião, mas como o Cordeiro que tira o pecado do mundo todo.

Tente rejeitar todo pensamento de auto-justificação toda vez que você se vir tentado a se explicar para Deus e para os homens.

Tente apenas confiar na única Cruz, e, assim, levar a sua cruz, que é andar pela fé, nunca tendo justiça própria, senão a que vem de Deus.

Tente, e você verá como todos os seus sentidos se revoltarão, e como todos os seus instintos se eriçarão, e você se sentirá inseguro, como se a Lei do Reino fosse a da Sobrevivência dos mais Aptos.

Sim, porque nos sentimos seguros no sacrifício de Caim, embora ele nada realize diante de Deus. E nos sentimos muito inseguros na hora de praticar na vida o sacrifício de Abel.

Jesus disse “Está Consumado”. E a nossa alma, em si mesma, pergunta: “O que mais eu devo fazer?”

Jesus terá que repetir Seu sacrifício todos os dias outra vez? Ou terei eu de oferecer alguma coisa a mais?

Ora, se a pessoa consegue desistir do “si-mesmo”, e tomar a sua cruz, então, Jesus diz que esse tal vai poder segui-Lo.

“Segue-me”— é o convite.

E aí? O que acontece? Fica tudo resolvido?

É claro! Está tudo resolvido; eu, agora, é que preciso aprender a usufruir o que já está consumado. Assim, tendo já tudo consumado em meu favor, caminho para experimentar o que já está feito e pronto.

E como é esse caminho? Como se faz para seguir Jesus?

Ora, ande após Ele como Pedro.... e os outros.

O discípulo é um ser em disciplina. Disciplina é o que o discípulo vai aprender.

Que disciplina? A dos centuriões?

É claro que não. A disciplina que o discípulo vai aprender é amor.

Assim, no caminho, o discípulo cai, levanta, chora, questiona, se oferece para o que não deve, ambiciona ser maior! , menor, mais amado, mais crido, mais usado, mais devotado, mais, mais...; e, então, vai aprender enquanto cai, enquanto erra, enquanto sugere equivocadamente, enquanto acerta, enquanto nega, enquanto corta orelhas, enquanto quer fazer fogo cair do céu, e enquanto pensa que sabe, sem nada saber.

O caminho do discípulo é igual ao caminho dos discípulos no Evangelho, e acontece do mesmo modo; e só será discipulado se for igualmente acidentado, exposto, aberto, equivocado, humilde, capaz de aceitar a repreensão do amor, e apto a aprender sempre sem jamais acreditar que se terminou qualquer coisa antes que se ouça: “Vem, servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor”.

O caminho do discípulo não está escrito em manuais e nem em cartilhas de igreja.

O caminho do discípulo é todo o chão da existência.

O discípulo é forçado a só aprender se viver. E ele não precisa ter medo da vida, pois é na vida que ele vai seguir a Vida.

No caminho do discípulo o mar se encapela, as ondas se levantam, e os ventos sopram. Por isto, o discípulo muitas vezes tem medo, grita, vê coisas, interpreta-as errado — É um fantasma!

Seguindo a Jesus o discípulo está sempre seguro, mesmo quando pede o que não deve; e, mesmo quando muitas vezes deseja o que lhe faz mal.

No caminho ele vê demônios saírem e não saírem; julga e é julgado; e aprende que não pode julgar; se afoga; é erguido; e caminha sobra as águas; vê maravilhas, encara horrores... Mas adiante dele está Jesus!

Para se ser um discípulo de Jesus a pessoa tem que ficar sabendo que o Evangelho não são quatro livros acerca do que aconteceu entre Jesus e alguns homens e mulheres, há muito tempo atrás.

Para se ser um discípulo de Jesus a pessoa tem que ficar sabendo que o Evangelho está acontecendo hoje, do mesmo modo, na vida dele. E precisa saber que as coisas escritas no Evangelho são apenas para a gente ficar sabendo como é que acontece na nossa própria vida.

O Evangelho só é Evangelho se for vivido hoje. Não com a pretensão de dizer que seremos como Jesus. Mas pelo menos com a declaração de que seremos como os discípulos; e que adiante de nós, de todos nós, está o Senhor.

Caio

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