Caio, o que é a transformação do ser?

09 julho 2008

Caio,

Sua resposta a uma indagação que lhe fiz acerca do coração, me motivou a voltar a escrever-lhe. Falar com você é como tatear terreno santo, visto sua experiência ministerial e amor a Palavra de Deus. E é tateando que vou tentar me expressar. Se for bem sucedido em minha empreitada, esse será a troca de muitos e-mail enquanto paciente você for para comigo.

Tenho lido alguma coisa do que você escreve e posso notar que com muita propriedade você fala acerca da Graça de Deus em contraposição a Lei. Eu noto algumas categorias nas Escrituras que simplificam a visão de mundo na contraposição: luz/trevas - crentes/incrédulos - judeus/gentios - graça/lei... e assim por diante.

Minha preocupação se volta para a Graça em si, num aspecto em particular: "transformação", tendo por referencia Rm 12:1,2.

Permita-me dizer uma coisa: transformação, para mim, não é impecabilidade, visto que o pecado é uma raiz presente na carne, só arrancada com o corpo incorruptível; e que, vez ou outra, se manifesta em pecados (I Jo:1:8-10).

Transformação também não é adquirir de Deus algo novo, visto que no novo nascimento recebemos todas as bênçãos de Deus, bem como tudo que diz respeito a vida e a piedade.

Transformação é ter consciência, creio que você colocaria, da graça de Deus.

Me corrija se estou errado. Nascido de novo ainda temos estruturas mentais vindas de nossa jornada sem Deus. Essas estruturas nos impedem de compreender certos aspectos da vida cristã e, pior, muitas vezes entendemos que elas fazem parte da vida cristã. Paulo em Ef 2:3 diz que o que antes nos qualificava como filhos da ira era andarmos em nossos próprios pensamentos.

Permita-me colocar o que digo com base em uma experiência pessoal. Eu fora secretario de planejamento do meu município. Perguntando a Deus o que seria nos próximos anos recebi uma resposta em Isaias: "...farei de ti um trilho novo, com ele trilhará os montes." Pensei comigo que essa resposta implicaria necessariamente uma nova conversão, mas não sabia como poderia ser possível. Dois meses depois de sair da prefeitura me vieram à mente três perguntas:

1. Onde esteve sentado nos últimos três anos?—cadeira tal, mesa tal, sala tal.

2. Quem esteve sentado nela antes de você?— todos os secretários de planejamento da prefeitura, antes de mim (então me lembrei que em 1967 meu pai sentara naquela cadeira - tremi)

3. Você quer ser a imagem de seu pai ou minha imagem conforme minha semelhança? Ao responder que queria ser a imagem de Deus percebi que naquele momento caíra por terra 36 anos de vida. Foi como se numa tacada só todo meu passado fosse jogado no lixo.

Considero esse momento um momento de transformação, pois meu modo de ser mudou radicalmente desde então. Eu pensei nunca mais entrar na vida pública, pois esse seria o caminho de meu pai; estava enganado. Hoje sou de novo secretario, agora de Administração, mas minha atuação difere, para melhor, daquele momento anterior; e difere da água para o vinho.

O que quero colocar a você é que esses momentos, entendo, que são contínuos e alargam nosso coração no entendimento e na experimentação da graça de Deus.

Tenho notado que eles sempre acontecem com base na compreensão clara da Palavra para uma experiência existencial específica a luz desta Palavra, resultando numa mudança de atitude - metanoia, me parece.

Nos textos que leio, os que você escreve, não consigo ver isso com clareza, posto que você, até onde eu posso perceber, conduz o indivíduo (como a voz que clama no deserto) da Lei para a Graça. Onde o que eu procurei lhe passar se encaixa na sua percepção? Consegui transmitir o que procurei fazer ou teria que expor com mais propriedade? O que você poderia me dizer?

Por favor, meu desejo é realmente aprender com você, pois tenho comigo que mesmo falando, falo ouvindo.

Saiba que considero uma honra poder trocar e-mail com você.

Um grande e fraterno abraço.

Cezar

Postada em 24/12/2004 – Fonte: www.caiofabio.com

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