E se o reino crescer em nós?

20 agosto 2007

As esperanças de Isaías de que um dia todos os seres vivos se reconciliariam, de tal modo que presas e predadores pastariam juntos, dormiriam juntos e brincariam juntos; a tal ponto que um bebê humano meteria a mão no buraco da cascavel e não sofria nada nunca — nos remetem para aquilo que o “condicionamento sistemático escatológico” criou para quase todos nós como cenário.

Assim, de Isaías somos levados como que por encanto para o Apocalipse, e, de súbito, sem nenhuma confirmação de Jesus ou dos apóstolos, mas exclusivamente por mera criação sistêmica dos teo-escatologistas, “aprendemos” que a utopia de Isaías tem seu cumprimento no milênio do Apocalipse; milênio esse que é apenas descrito como domínio do Cordeiro por mil anos [sem que se saiba se esses mil anos são de fato mil anos ou apenas mais uma das simbolizações do livro]; ao fim do qual Satanás é “solto outra vez, e sai a seduzir as nações”, ajuntando-as para a guerra contra o Cordeiro e Seu povo.

Independentemente de uma coisa ser ou não a outra, o que quero dizer é que em Isaías esse tempo de reconciliação é divinamente humano e humanamente divino; ou seja: é aparentemente um reino da consciência e da sincronicidade realizada pelo amor a Deus e ao próximo.

De fato em Isaías nada é definitivo, mas apenas altamente qualitativo.

Pois...

Os homens vivem muito tempo [como a existência longeva de uma árvore forte], mas morrem; e se diz que morrer com cem anos é morrer ainda jovem.

Também se cria um cenário no qual os homens trabalham, mas não trabalham em vão; ou seja: eles constroem e habitam no que ergueram; eles plantam, e comem o que semearam; eles têm filhos de esperança e não os vêem crescer para a calamidade; e assim, tudo o mais, de tal forma que o suor existe, mas é grato; o trabalho acontece, mas como bem usufruível; a morte existe, mas não cansa e nem dói o esperá-la e nem o encontra-la.

Ou seja: Os homens estariam encarnando o espírito anunciado por Paulo: Tudo é vosso; seja a vida; seja a morte; as coisas do presente ou do porvir; tudo é vosso, e vós de Cristo; e Cristo de Deus.

Seria algo como a plenitude relativa do máximo da experiência humana num mundo caído, porém, abrandado pela emanação coletiva do amor.

Assim, seja como for que Isaías se torne realidade entre nós um dia, isto só acontecerá se houver uma súbita e dramática nova consciência entre os humanos, ainda aqui neste plano e dimensão de coisas; pois, o cenário é terrestre e relativo, mas a experiência carrega o sinal do amor e da saúde do reino de Deus entre nós.

Em minha opinião seja como for... — isto só será possível se o reino de Deus que está em nós, crescer tanto em cada um de nós, expandindo-se de modo endêmico; de tal modo que toda a nossa animalidade vampiresca dê lugar ao espírito de Jesus; e, assim, sejamos tomados de toda a plenitude de Deus; ponto no qual o ser confia e perde a ansiedade; e, assim, se reconcilia com ventos, ondas, com plantas, com a gravidade, com o átomo, com o quantum, com as células, com todas as formas de vida; falando línguas humanas, angelicais, animais e vegetais; de tal modo que a desgraça que Oséias diz que acontece quando os homens se desarmonizam entre si, criando um caos na ordem relacional das criaturas, fosse e seja invertido, gerando reconciliação e sincronia entre todas as coisas criadas.

Ora, não importando como [se é o Cordeiro vindo ou se é o reino do Cordeiro crescendo em nós] acontecerá; eu, todavia, creio que pode acontecer e que acontecerá.

Quem crê na Ressurreição e no Pentecoste não pode não crer no que Isaías profetizou; e isso sem se preocupar em solucionar a questão para Deus.

Entretanto, nós estamos neste mundo para treinar essa possibilidade todos os dias. No entanto, quanto mais existimos... como espécie na história, mais cegos e burros ficamos; e, assim, vamos cavando o abismo que nos separa uns dos outros, que nos separa de nós mesmos e de toda a criação. Daí o estarmos destruindo a terra.

É o esburacamento do coração humano a geografia existencial de catástrofe de onde procedem todas as devastações humanas; assim como as naturais de extensão planetária.

O poder para viver a profecia de Isaías habita a todo aquele que crê. Mas ele tem que se desenvolver, evoluir e crescer em nós. Do contrário é como a existência de uma caverna cheia de tesouros, mas ninguém com coragem para trazê-los à luz.

Pense nisso!

Caio

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